Um dos Melhores Documentários Indicados ao Oscar Está Disponível no Disney+

Quando a maioria das pessoas assina o Disney+, elas provavelmente estão pensando em rever os filmes originais do Disney Channel que marcaram a infância ou assistir ao mais recente lançamento da Marvel no conforto de casa. Para muitos, a plataforma é sinônimo de entretenimento leve, onde questões sociais aparecem de forma suavizada em animações como Zootopia. Os documentários mais promovidos costumam ser aqueles que glorificam a própria marca, como a série Marvel Disassembled, ou produções que exploram a beleza da natureza.
Grande parte desses filmes sobre a natureza são provenientes da National Geographic, um segmento subestimado do Disney+. Além de exibir a grandiosidade do mundo natural, a National Geographic também produz filmes que abordam questões sociais urgentes, oferecendo uma profundidade que vai além das histórias animadas. Um dos exemplos mais notáveis é Sugarcane, um dos cinco indicados ao Oscar de Melhor Documentário deste ano.
A dura realidade de Sugarcane
Diferente da maioria dos filmes disponíveis no Disney+, Sugarcane é um documentário que investiga os abusos cometidos contra povos indígenas em um internato administrado pela Igreja Católica do Canadá. Seu objetivo é revelar a verdade sobre crimes terríveis. No entanto, essas atrocidades não pertencem apenas ao passado. Elas ainda impactam a vida das vítimas e de suas famílias, tornando o documentário essencial para a compreensão da história e suas consequências.
As escolas residenciais e internatos que forçavam crianças indígenas a se converterem ao cristianismo e abandonarem suas culturas foram, por muito tempo, um segredo vergonhoso na América do Norte. Hoje, esse tema tem sido mais explorado na cultura popular, aparecendo em séries como Reservation Dogs e True Detective: Night Country, além do romance Wandering Stars, de Tommy Orange. No entanto, essas obras utilizam a ficção para suavizar a realidade. Sugarcane, por outro lado, não oferece essa fuga. Dirigido por Julian Brave NoiseCat e Emily Kassie, o filme expõe a crueldade da escola St. Joseph’s Mission, localizada em Williams Lake, na província da Colômbia Britânica, Canadá. Mesmo fechada desde 1981, os horrores que aconteceram ali ainda deixam marcas profundas, especialmente na vida do pai do diretor, Ed NoiseCat.
O impacto geracional
O documentário começa com NoiseCat telefonando para Ed no dia do seu aniversário, convidando-o para acompanhar a investigação. Ed espera, com isso, preencher uma lacuna de sua infância e entender melhor por que seu pai o abandonou e sua mãe o deixou na escola St. Joseph’s. Com seu chapéu estiloso, cigarros sempre à mão e uma trança no peito, Ed transmite a imagem de um ex-hippie ou roqueiro, um homem cínico que, em momentos inesperados, entoa canções de Neil Young. No entanto, conforme encontra outros sobreviventes e revive as memórias dolorosas, sua fachada se desfaz, revelando um sofrimento que nunca cicatrizou.
Em uma cena particularmente marcante, NoiseCat confronta seu pai sobre o abandono que sofreu. Ele tenta mostrar que também foi deixado para trás, assim como Ed no passado. A emoção o impede de expressar plenamente seu ressentimento, e enquanto Ed tenta se defender e pedir desculpas, as lágrimas tornam suas palavras inaudíveis. O momento não resulta em um desfecho claro. Pai e filho se afastam momentaneamente, tentando processar suas emoções. No dia seguinte, retomam a viagem, evitando tocar no assunto.
A dor compartilhada
O documentário evita transformar Ed em um vilão. Pelo contrário, ele é mostrado como parte de um ciclo de trauma. Uma das cenas mais impactantes ocorre quando pai e filho visitam um antigo agressor de Ed na escola, um menino que quebrou seu osso malar em uma briga. Mas, em vez de um brutamontes, encontram um homem igualmente destroçado pela infância. Ele também foi deixado na instituição pela mãe e sofreu abusos do mesmo padre a quem confessava seus pecados. Não há raiva na reação de Ed, apenas uma compreensão silenciosa do destino compartilhado.
Essa capacidade de ir além da história pessoal de NoiseCat e Ed é o que torna Sugarcane um documentário tão poderoso. O filme também acompanha Rick Gilbert, ex-chefe da comunidade indígena de Williams Lake e devoto católico, que viaja ao Vaticano em busca de reconciliação. Da mesma forma, apresenta o atual chefe Willie Sellars, que usa a descoberta de covas não identificadas para destacar a contínua marginalização dos povos indígenas no Canadá.
Durante suas jornadas, Gilbert e Sellars conseguem atrair a atenção de figuras influentes, como o Papa Francisco e o primeiro-ministro canadense Justin Trudeau. Ambos reconhecem os erros do passado e expressam pesar pelo sofrimento causado. No entanto, nenhuma das autoridades menciona a palavra “reparação”, tampouco propõe medidas concretas para apoiar as vítimas e suas famílias.
Com uma narrativa poderosa e profundamente emotiva, Sugarcane é mais do que um documentário: é um lembrete essencial de que o passado nunca é tão distante quanto parece e que a justiça para os povos indígenas ainda está longe de ser alcançada.